POR SEANE MELO

Talvez eu não seja voyeur

Fonte: Zipper Saí direto do trabalho para o Veneto e fiquei esperando minha amiga chegar. Era aquilo ou voltar pra casa e decidir que era melhor ficar por lá mesmo. Não nasci pra essa vida de boemia. A verdade é que beber cerveja me dava indigestão. E isso já me desanimava um bocado. Cheguei a […]

Fonte: Zipper

Saí direto do trabalho para o Veneto e fiquei esperando minha amiga chegar. Era aquilo ou voltar pra casa e decidir que era melhor ficar por lá mesmo. Não nasci pra essa vida de boemia. A verdade é que beber cerveja me dava indigestão. E isso já me desanimava um bocado.

Cheguei a tempo de encontrar uma mesa de plástico desocupada. Era incrível como aquele bar era uma merda, mas eu nunca conseguia encontrar um lugar livre pra sentar. Dessa vez tive sorte e ainda descolei um lugar que dava de frente para a rua. Sentei e fiquei fitando o letreiro enganoso da Heineken até identificar todos os descascados e me pegar pedindo uma Skol para a garçonete com cara de poucos amigos. Um Zé Mané começou a me olhar, me obrigando a pegar o celular para não dar abertura. Abri o Facebook para ver se pescava alguma coisa interessante pra ler. Pra variar, não me empolguei com nada. Mas me peguei lembrando do texto que tinha lido antes de sair da agência, sobre as mulheres lubrificarem ao menor dos estímulos sexuais. O texto dizia que essa história de acharem que as mulheres eram sempre bissexuais era fruto de uma pesquisa erradíssima que fizeram nos Estados Unidos antes daquele cara do seriado, o doutor Master (nota mental: lembrar de voltar a assistir essa série. Até que era bem bacana).

A explicação para isso era bem deprimente, de verdade. Falava que as mulheres lubrificavam até com pornô gay, não porque todas tivessem essa inclinação, mas porque o corpo feminino tinha evoluído para buscar formas de proteger a vagina dos estupros. Diz se não dá uma bad de ser mulher? Mas eu achei essa explicação interessante pra caramba. Não sei se é verdade mesmo, mas que é interessante é.

A cerveja chegou sem nenhum isopor nem nada. Olhei ao redor e vi que ainda não tava cheio assim para eles dizerem que tinham acabado. Deixei pra lá. Tava refletindo sobre todas as vezes em que fiquei molhada aleatoriamente. Não em situações impróprias, isso não. Tava tentando lembrar das vezes em que eu não tava com um pingo de tesão e o meu corpo tava lá, trabalhando. Sempre tem esses caras que deixam a gente desanimada. Que o beijo não empolga e o papo do cara é mais chato que comentarista de novela e reality show metido a comediante. Já tive em umas situações dessas. E, daí, quando eu já tava seminua, morta de arrependida de ter chamado o sujeito pra minha casa, o cara tirava a minha calcinha, passava a mão em mim e a bandida tava morta de úmida.

Os homens vivem falando que não podem confiar no julgamento do pênis, mas ninguém fala que, com mulher, é até pior! Meu namorado manda uma mensagem no WhatsApp para avisar que vai jogar bola com os amigos. Esse safado acha que me engana mesmo. Dou uma bufada. Pelo menos amanhã ele não vai poder se livrar de mim. Vou pra casa dele tentar fazer um tempo melhor no Mario Kart. Acho graça da minha vingança ridícula. A verdade é que eu tô muito insatisfeita com a nossa vida sexual. E eu andava bem cabreira com umas coisas. Até ter lido esse texto de hoje.

Há um mês, eu tava deitada na cama com ele, quando o celular dele tocou. Ele tinha escolhido um filme de ação cretino para a gente assistir e tava mais interessado no filme que na mensagem de WhatsApp que tinha chegado. Por isso, destravou o celular no automático e clicou na notificação de mensagem sem tirar os olhos da TV. Meus olhos saltaram para o nome do remetente. Eu conhecia, era o nome da garota com quem ele saía antes de a gente namorar. Ela tinha enviado uma foto, que o celular dele estava fazendo download automaticamente, com a seguinte mensagem “olha o que eu achei no backup”. A foto foi ficando nítida, mas eu demorei para entender. Em um momento, não me segurei e enfiei o dedo na tela do celular para ampliar. Ele se assustou, mas não em tempo de esconder a tela. Então eu tive certeza: era ele comendo a mina no banheiro. Era quase um close dele enfiado nela, o tronco dela quase formando uma reta perpendicular, e a bunda jogadona pra ele. Não pude deixar de achar o ângulo estranho. Não era uma selfie.

Ele demorou para entender do que se tratava, mas, assim que percebeu, escondeu o celular. E já quis engrossar para o meu lado, dizendo que eu não tinha direito de olhar as coisas dele. Fiquei parada, sem acreditar na cara lavada. Mas eu estava constrangida demais para ficar zangada. Eu tinha ficado completamente molhada com a foto. Eu sei que você ficou com ela antes de a gente namorar, fui logo desculpando ele. Ele relaxou.

– Deixa eu ver a foto direito?

– Para quê, amor? — ele me perguntou desconfiado e desconfortável.

– Só queria ver mesmo. Fiquei curiosa.

– Tu num já viu?

– Vi não. Tá escura. — Era verdade que estava escura.

Ele cedeu o celular e se afastou com medo de que eu estourasse a qualquer momento.

– Quem tirou essa foto?

Ele me olhou com os olhos arregalados e quis confiscar o celular de novo. Não conseguiu pensar em nenhuma resposta.

– Amor, por favor, não olha mais isso. Tá me constrangendo.

Eu ri.

– Tinha mais uma mulher com vocês?

Ele coçou a cabeça e deu de ombros.

– Tinha, amor. Mas, poxa, não sei porque tu quer tocar nesse assunto. Não entendo mesmo. A gente tava aqui, no maior amor, assistindo filminho…

– Calma, eu não fiquei com raiva. — Disse me aproximando dele para abraçá-lo. Fingi que estava demonstrando compreensão apenas para esconder que senti um tesão perturbador ao ver aquela imagem. Aproveitei para dar um selinho e tentar disfarçar que a minha vontade era de montar em cima dele.

Ele voltou a assistir ao filme e eu deitei ao seu lado fingindo interesse. Na minha cabeça, a cena da foto ia adquirindo movimento. Eles estavam no banheiro dele. O banheiro onde nós acabamos transando tantas vezes com a desculpa de que íamos apenas banhar para dormir. Eu sabia como ele gostava de foder no banheiro, mas não deixava de ser incrível vê-lo fazendo aquilo com outra pessoa.

Eu via a bunda dele levemente contraída pelo movimento de ir e vir que a câmera paralisou. Não via o rosto dela, mas imaginava os gemidos. Eu sempre enlouquecia naquela posição. Devia estar gostoso pra caralho. Quase soltei uma risada quando imaginei o saco dele batendo na bunda dela. Pra caralho mesmo.

Mas o que mais me hipnotizava era aquela imagem dele de costa. Sempre achei ele lindo, sempre me deu tesão, quer dizer, costumava dar muito. Eu amava aquela costa, amava aquele olhar vidrado na bunda dela e aquela mão louca pra enfiar uma lapada. Mas eu amava acima de tudo aquela bunda masculina perfeita. Musculosa, durinha, que, agora, só vivia escondida por uma coleção horrível de samba canção com mancha de água sanitária. Tive vontade de morder a bunda dele enquanto ele fodia a outra mina e me masturbar até gemer mais que ela.

– Amor?

– Oi? — respondi quase sem ar.

– Tira a mão do meu pau. Quero terminar o filme.

Não tá fácil mesmo. Seguro o xixi até minha amiga chegar para não perder a mesa e então passo a pensar em outro grande problema. Putz, vou ter que usar o banheiro do Veneto. Cerveja é foda! Praguejo enquanto imagino todo aquele xixi acumulado, umas bitucas de cigarro e, possivelmente, um absorvente inchado. Se eu der sorte.

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