
Terminei de dar a segunda tragada e ele já me perguntava o que eu achava de transar chapada. Eu bem que podia ter sido chata, francamente. Mas eu tenho uma queda por caras que são menos sutis que o meme aja naturalmente. Sutileza também não é o meu forte, então talvez seja só uma identificação. Mas, voltando ao assunto, segurei a onda da minha ranzizisse. Não citei o personagem maconheiro (ou um dos) do Foster Wallace. E também não soltei a trágica história da garota do copo d’água. Essa história não tem a menor graça, essa é que é a verdade.
Achei melhor só dizer que não me empolgava muito.
– Como assim? Todo mundo diz que é bom — Ele me olhou intrigado
– É, tô ligada… — Não quis prolongar o assunto.
– E por que você não gosta?
Pelo visto não ia dar pra escapar.
– Olha, nem é que eu não curta. Mas é que tem cara que nem fica de pau duro depois de um beck, sabe? — Torci para a carapuça não servir. Vai que eu toco num ponto delicado do moço?
– Hum…
– Pelo visto cê curte, né? — Tentei desviar o foco de mim.
– Então, nunca fiz… — Ele confessou meio pensativo.
Achei que ele tinha relaxado a ideia e que o papo ia ficar por isso mesmo. Ele nunca tinha feito e eu obviamente não era a pessoa mais empolgada do mundo. Mas daí ele me solta que eu estava errada. Han? Em que?
– Olha! — Ele disse indicando o pau com a cabeça.
Dava pra ver que a parada tava dura pela calça jeans. E, para não deixar o boy desperdiçando aquele esforço, resolvi dar uma acariciada. Ele se chegou, todo safado, pro meu lado e começou a me beijar. Fiquei empolgada com o beijo e tudo, mas o corpo relaxadão tava me dando a maior preguiça de continuar. Nem a pau que vou montar.
Fiz as contas e decidi que uma chupada seria mais jogo. Mas, ao mesmo tempo em que deslizava pelo corpo dele, já percebia que tinha feito mancada. Aí o trecho do livro do Foster Wallace veio todinho na cabeça:
“Ele nunca, jamais, tinha chegado efetivamente a fazer sexo chapado de maconha. Francamente, a ideia era repulsiva para ele. Duas bocas secas se trombando, tentando um beijo, a neura fazendo as ideias dele se enroscar em si próprias como uma cobra numa vara enquanto ele se remexia e fungava seco em cima dela, com os olhos inchados e vermelhos e a cara tão frouxa que suas dobras moles talvez tocassem, caídas, as dobras do rosto frouxo dela que transbordava para lá e para cá no travesseiro dele, com a boca se remexendo seca”
Tirando o fato de que ninguém lembraria uma citação desse tamanho de cabeça, deu para entender, né?
Dei uma lambida especulativa e confirmei meus piores temores: a boca tava seca pra caramba! A saliva secava assim que a língua se afastava e não tinha nada que fizesse a mão deslizar beleza. Quer dizer, até que daria para resolver se eu conseguisse cuspir bacana. Mas, sempre que eu pensava nisso, via uma cena minha cuspindo a pasta de dente da pia e lembrava de como a baba sempre formava um fio que ficava preso na boca. Às vezes eu me acho uma completa incompetente, no duro.
Olhei pro boy cheio de expectativa e pensei que valia insistir um pouco só para proporcionar aquela primeira experiência. Dentro de mim, uma voz até dizia que aquilo podia ser mentira. Mas eu escolhi acreditar. E chupar, diga-se de passagem. Mandei ver dando lambidas frenéticas para ver se a vencia a saliva que insistia em secar. Não rolou. Então enfiei tudo na boca e deixei o pau dele lá esperando que isso aumentasse exponencialmente a quantidade de saliva. Aí a parada começou a dar certo e eu me animei. Só depois de alguns segundos, percebi que ainda estava do mesmo jeito. Tudo enfiado até a garganta e o mandíbula relaxada como nunca. Foi aí que caiu a ficha dos poderes que eu tinha ganhado.
Tirei o pau da boca e sorri pra ele. Se prepara, cara. Avisei com o olhar. Voltei a chupar o pau ainda com o olhar vidrado nele. Fiz o check list do comecinho. Lambida, beijinho, mamada e uns assoprinhos. Dava gosto de ver a carinha dele. Então voltei a enfiar tudo na boca e fechei os olhos pra curtir a minha própria viagem.
Me perdi dele. E tinha certeza que ele também tava perdidinho. Nos encontrávamos só em alguns gemidos. Até ele falar algo (não pára?) e eu levantar sobressaltada.
– O que foi? — ele perguntou preocupado.
Fiquei procurando uma forma de responder.
– Lombrei que tinha esquecido de respirar.
– Credo
Sentei novamente no sofá e fiquei pensando que devia tomar cuidado com aquilo. Ele passou o braço ao meu redor para me abraçar.
– Tá tudo bem?
– Tá… — respondi sem muita convicção
– Cara, tava muito bom — ele disse me dando selinhos.
Retribuí os beijos e tentei sorrir, mas, na minha cabeça, uma versão histérica de mim ainda acreditava plenamente que eu podia ter morrido.
– Sério, o que foi aquilo? Nem parecia uma boca!
Puta merda! Esse cara vai me fazer surtar.