POR SEANE MELO

quatro contos eróticos que nunca vou escrever

I Era o maior pau que já tinha visto na minha vida. E, curiosamente, não tive nenhuma das reações que seriam esperadas. Sabe, sempre me perguntei se ficaria com medo ou, pelo menos, com receio de que me machucasse, ou, pelo contrário, se acharia excitante o suficiente para ficar com água na boca. Pra falar […]

I

Era o maior pau que já tinha visto na minha vida. E, curiosamente, não tive nenhuma das reações que seriam esperadas. Sabe, sempre me perguntei se ficaria com medo ou, pelo menos, com receio de que me machucasse, ou, pelo contrário, se acharia excitante o suficiente para ficar com água na boca. Pra falar a verdade, até fiquei com água na boca sim, mas a reação que estava definitivamente ganhando era a vontade de rir. Não porque era engraçado. Era gigante, roliço, maciço, qualquer coisa, menos engraçado, mas toda vez que eu olhava pra ele, não podia deixar de ouvir a voz de uma amigo falando ERA UM CATRAMOLHO, BICHA! C-a-t-r-a-m-o-l-h-o. Eu adorava essa palavra e, na hora em que ele tirou a cueca, não tive dúvidas de que estava diante de um. Felizmente, ele não conseguia ler pensamentos, mas meus olhos deviam estar um pouco arregalados, porque se inflou orgulhoso. Gostou?, perguntou aproximando-se de mim. Ainda não decidi, deixa eu ver de perto, respondi e me ajoelhei para chupá-lo. Não sei dizer quem estava mais excitado, mas quando aquele pau já chegava à minha garganta e senti a primeira ânsia de vômito, tive uma ideia e senti meu corpo estremecer de tesão. Tirei tudo da boca e pedi, me bate? Ele pareceu surpreso, mas não demorou para preparar a mão e dar um tapa na minha cara. Gosta de apanhar, é safada?, perguntou passando a mão no pau. Me bate?, perguntei de novo, mas parei a sua mão quando veio novamente em minha direção. Não, me bate com ele. Ele sorriu, empunhou o pau e preparou o quadril para pegar impulso e dar com o catramolho na minha cara. A pressão foi maior perto da minha boca, onde a base era mais grossa. O resto do pau atingiu o meu rosto quase com carinho.

II

Quando a música parou, anunciando que o treino tinha acabado, não resisti ao impulso de me jogar no chão. Enquanto pegava fôlego, sentia o corpo esquentando cada vez mais e o suor me colando ao chão de borracha. Ele passou por cima de mim rindo e perguntando se eu tava viva. Ô!, respondi, sem disfarçar que tinha dado uma boa conferida na sua bunda. Tava rolando um clima fazia tempo, pelo menos na minha cabeça, tava rolando demais. Deve ter sido alguma coisa da endorfina, da testosterona, da vitamina D, sei lá, sei que ele me seguiu até em casa. Tiramos as camisetas ensopadas quase imediatamente. Reparei que ele ainda não tinha tirado a munhequeira, então comecei a tirar com cerimônia e ao finalizar dei um cheiro naquele punho suado e abafado pelo neoprene. A cada peça de roupa que tirávamos, nosso cheiro impregnava o quarto. O tesão era tanto que não tivemos tempo para ligar o ventilador ou tirar as meias. Logo que começou a se movimentar em cima de mim, sentia que meu corpo era uma lona com sabão sobre a qual ele deslizava. Quando vi mais gotas de suor se formando em seu pescoço, o lambi em um impulso. Mais tarde, eu e minhas amigas nos acostumamos a chamá-lo de Salgadinho.

III

Sempre quis transar numa balada. Eu tinha dito isso naquela mesma noite para o Pedro, quando fomos tomar um sorvete numa sorveteria artesanal, com opções veganas, que ele queria me mostrar. O Pedro tinha dessas. Tinha decidido que queria que eu provasse um sorvete de tangerina plena 23h. Me comer tu não quer, né?, quase disse. Mas era gostoso estar com ele, mesmo me enrolando e jurando que não me levava pra casa porque tinha que acordar muito cedo. Sem problema, encontrei com dois amigos a caminho daqui e eles me convidaram pra passar numa balada aqui perto. Pedro me olhou desconfiado. Você não tá pensando em realizar aquele seu sonho não, né? Caí na risada, enquanto pensava que até meus 25 anos nunca tinha tido aquela sorte. E as variáveis eram muitas: tinha que encontrar alguém com camisinha, que se preocupasse em colocar camisinha, que soubesse colocar a camisinha muito discretamente e que soubesse me comer também muito discretamente porque o meu sonho era trepar na pista de dança, não num banheiro vomitado, saca? Mandei mensagem pros meus amigos e os encontrei ainda na porta. Pareciam um pouco desconcertados quando cheguei, quase achei que tinham me convidado apenas por educação. Amiga, um deles me abraçou, eu te amo. Tem problema se eu contar que teu ex tá aqui? Eu ri da preocupação dele. Não, a gente é de boa. A gente era de boa mesmo. Depois da terceira tequila perguntei se ele conseguia colocar uma camisinha muito discretamente preu ver.

IV

Às vezes eu achava que o odiava ou amava daquele jeito cruel, sabe, que dá vontade de apertar a rola e esmagar até escutar um ai. Era domingo, a farmácia mais próxima tava fechada e só agora ele avisava que a camisinha tinha acabado. Puta que pariu, por que esse cara veio aqui então?, pensei irada, mas logo respirei fundo e comecei a pensar no que ele poderia fazer por mim. Eu poderia obrigá-lo a beijar e lamber meus pés, poderia pisar em cima dele, poderia pedir que me masturbasse daquele jeito… Senta aqui, ordenei apontando pro sofá e ligando a TV, vamo procurar um tutorial de sexo tântrico no YouTube.

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