
Foi horrível. Não queria falar sobre isso, mas às vezes é melhor falar e tirar logo da cabeça, né?
“Ai meu deus, não me deixa nervosa, ele fez alguma coisa contigo?”, Vanessa me interrompe.
Não, calma, não foi exatamente ele. É muito bobo, na verdade. Vou contar logo. Começou com a festa da Ester, quer dizer, começou antes, com a minha TPM. A festa da Té ia ser no sábado e passei a semana inteira com os nervos à flor da pele. Quando tô assim fico com uma carência fodida, acho que já disse isso. Só que dessa vez, a TPM coincidiu com a Vênus retrógrada, então, minha autoestima tava bem abalada pra completar. Até aí tudo bem, porque a gente sabe como são as festas da Té, em geral quase não tem hétero, né? Quer dizer, tirando os amigos que ela tem do audiovisual e daí cê já viu. O ponto é que não criei nenhuma expectativa específica de pegar alguém no sábado, mas pensei em tirar meu macaquinho costa nua do guarda-roupa, me arrumar, tirar umas selfies e tentar me sentir mais bonita.
Nunca tinha usado o macaquinho exatamente porque era costa nua e eu era invocada com a forma que meu peito ficava nele, mais que isso, ficava incomodada com a transparência. Odeio a cor do meu mamilo, quer dizer, acho que tenho um pouco de problema com o meu mamilo inteiro. Uma vez tava numa onda assistir a filmes com triângulos amorosos e lembro muito do quanto Os sonhadores mexeu comigo. Mais do que a relação estranha entre os personagens que eram irmãos, o que ficou gravado na minha cabeça foi o peito da Eva Green. Não sei se já viram, o peito dela tem um tamanho ótimo e um “caimento” bem bonito também, mas fico muito agoniada por ser tão… tão aureoludo, entende? Parece que não tem uma proporção certinha entre a circunferência do peito e a do mamilo, sei lá, por mim os genes vinham com uma regra proibindo que os mamilos ocupassem mais de 25% da área do peito. Provavelmente minha implicância com os peitos da Eva Green tenha a ver com o fato d’eu também achar os meus aureoludos. O pior é que, enquanto o dela é clarinho, a cor do meu mamilo parece ser uns três tons acima da cor do resto do peito, dá um contraste bizarro, cara.
Já pensei em fazer terapia pra superar essa implicância, mas achei melhor investir o dinheiro no macaquinho, me obrigar a vestir algo sem sutiã e aprender a lidar com o meu corpo sozinha. Não parece fazer nenhum sentido agora, mas quando tava no provador da Forever 21, fazia muito. Fora que o macaquinho valorizava bem minhas pernas.
Tudo teria dado muito certo se eu só tivesse vestido a tal da roupa e ido pra festa da Té. Só que dois dias antes tinha parado numa farmácia pra comprar meu anticoncepcional e casualmente tinha encontrado um desses sutiãs adesivos. Na hora, até pensei em comprar um adesivo só pro mamilo, mas, com medo do meu ser maior que a média, comprei logo pro peito inteiro. Achei que tinha sido uma ótima aquisição por um bom tempo, acho que durante a festa inteira, só me dei conta da merda quando o elevador abriu e o Felipe anunciou: chegamos!
“Isso sempre acontece comigo!”, Vanessa interrompe minha narração novamente, mal segurando as risadas. “Prossiga”.
É verdade, a Van sempre me diz que as melhores transas aparecem quando a gente não tá nem um pouco preparada, mas, sério, nunca tinha rolado nada nem próximo de uma paquera nas festas da Ester e a gente é amiga há cinco anos pelo menos. Só queria usar uma roupa bonita! Enfim, quando o elevador se abriu, quase fiquei paralisada de terror, mas, né, já tinha chegado até ali. Pra mim, o pior de tudo foi que, se tivesse lembrado da porcaria do adesivo ainda na casa da Té, teria inventado qualquer coisa pra não ir pra casa dele, mas eu devia estar chapada de endorfina. Gente, e o que é aquele Felipe, né? O cara é lindo, cheiroso, a voz é linda, o papo é ótimo e o pau dá vontade de colocar no colo. Eu dormiria abraçada com aquele pau! Vocês sabem o que é isso? Sabe, até os ovos dele eram redondinhos e de uma pele macia, sem ser aquela coisa enrugada. Desculpa, vou voltar. É que vocês precisam ter uma ideia disso. Se fosse outro cara, eu teria pensado mil vezes antes de topar transar de primeira, mas ele era o cara mais bonito que já tinha visto pessoalmente e meus hormônios não conseguiam parar de avisar que aquele era o genro que minha mãe sempre sonhou (e eu também).
Depois que passou o susto e meu cérebro voltou a funcionar, achei que a solução podia ser mais simples do que imaginava. Como ele queria preparar uns drinks pra gente, aproveitei a deixa para ir ao banheiro. Tirei a roupa o mais rápido que pude e puxei o primeiro adesivo. Por muito pouco não berrei de dor. Parei pra pensar se tinha alguma forma mais inteligente de fazer aquilo, será que tinha que passar álcool ou água? Alice, sua retardada, como você não leu as instruções desse treco? Depois de cogitar algumas alternativas, achei que o melhor era mesmo arrancar o adesivo na raça e o mais rápido possível, como na depilação com cera. Mordi o lábio, encarei a dor e, quando olhei os adesivos deformados na pia, o alívio tomou conta de mim. Enrolei tudo num papel higiênico antes de jogar fora e voltei pra cozinha confiante de que a noite tava salva.
Tinha voltado praquele estado de embriaguez gostosa quando Felipe puxou a ponta do laço que prendia o macacão ao redor do meu pescoço. Até ali não conseguia parar de beijá-lo e sentia que a calcinha já tinha sido tomada pela enchente que meu corpo produzia descontroladamente. Senti o pano molinho do macacão ir escorregando pelo colo e achei que a roupa desabaria toda de uma vez, mas, por algum motivo, parou de escorregar quando chegou aos meus peitos. Felipe deu um puxão de leve no tecido e revelou meu corpo nu. Ele não percebeu, mas, definitivamente, eu tinha sentido uma fisgada e, quando me abraçou, o que ainda podia ser uma dúvida, virou uma certeza: a cola do adesivo tinha ficado toda nos meus peitos.
Tentei prever e impedir todos os movimentos que Felipe fazia naquela direção. Quando me deitou na cama e foi se encaminhando para chupar meus peitos, tive que empurrar sua cabeça para que continuasse descendo. Eita, apressadinha, disse rindo antes de começar a chupar minha buceta. Putz, tinha esquecido de dizer que ele também chupava bem (e como chupava!). Queria dar um prêmio pra língua dele, no duro.
Em algum momento, senti sua mão direita caminhando pela minha barriga com destino aos meus peitos, mas antes que conseguisse agarrar um deles, segurei sua mão e, sem ter uma ideia melhor do que fazer, trouxe pra perto da minha boca e comecei a chupar seu dedo médio. Me senti bem idiota, mas ele pareceu gostar.
Quando já estava bem animadinha, Felipe parou de me chupar, colocou uma camisinha e se deitou em cima de mim. Nos encaixamos. Tava tudo muito gostoso e eu mal acreditava que estava conseguindo fazer aquele milagre acontecer com seios autocolantes, mas ele não se conformou em ficar só naquela posição, me obrigando a enlaçar seu corpo com meus braços e minhas pernas. Felipe me beijou demoradamente, mas não se deu por vencido e continuou fazendo pressão pra levantar o tronco enquanto eu lutava para mantê-lo preso em cima de mim. O constrangimento durou até que, me dando conta de que não poderia prendê-lo pra sempre, desenlacei meus membros e o libertei. Ainda vejo a cena acontecer diante dos meus olhos. Meu peito foi levantando junto com ele até o ponto em que não dava mais e as peles começaram a se soltar. Felipe sentiu a fisgada e, em silêncio, ficou olhando nossos peitos se desgrudarem sem ter a menor ideia do que poderia estar acontecendo.
“Depois posso explicar”, quebrei o silêncio.
Felipe continuou olhando pros meus peitos, distraído, então me olhou bem sério.
“Acho que meus pelos grudaram em você”.
Comecei a rir de nervoso, mas, no meio do caminho, o riso virou gargalhada até que desatei a chorar de rir com ele ainda dentro de mim.
“E aí cês nem terminaram?”, Vanessa pergunta.
“Ah, não, terminamos sim”.
“Como cê fez?”
“Perguntei se a gente podia só transar de quatro”.
“Então não foi tão ruim, né?”
“Nunca mais nos falamos”, lamento.
“Putz, como homem é fresco, né? Mas o azar é dele, Lili”
Não quero repetir que ele foi o cara mais lindo que já vi na vida, especialmente, o mais lindo que já vi nu e que tinha tirado a roupa especialmente pra mim. Já é dolorido que eu tenha passado por essa situação constrangedora, mas, quando penso que aconteceu com o cara mais fantástico que já me deu mole, a humilhação duplica de tamanho. Pior que isso, só uma coisa.
“Sabe o pior de tudo, Van? Ainda tem um pouco de cola no meu peito…” confesso pouco antes de Vanessa cuspir toda a cerveja na mesa e começar a chorar de rir.
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Seane Melo colabora com o Mulheres Que Escrevem com textos ficcionais mensais. Para ler outros contos como esse, você pode começar por aqui!
Savron decidiu ser ilustrador no prézinho, depois que pintou o pato de azul e sofreu represálias. Desde então, vem tentando provar seu potencial. Hoje, faz ilustrações esporádicas pra Folha de S.Paulo e tem muito orgulho do seu belo instagram.