20/06/17, 22:04 — elvira: Oi, Beto. Finalmente criei coragem para usar a farinha que você me deu. Usei para fazer uma receita de Foccacia da Neide Rigo, com um azeite português que a minha nova roomie emprestou. A massa ficou linda, mas deu tudo muito errado. A receita não era pra fermento natural era pra fermento fresco, mas só me toquei do equívoco quando a massa já tinha virado um biscoito impossível de comer. Achei que podia ser uma espécie de autossabotagem, mas, apesar da forma como você sumiu e tudo, eu realmente queria um pãozinho gostoso. Sabe o pior de tudo? Não sei porque, ainda sinto que tenho que me desculpar por ter estragado essa farinha.
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15/07/17, 20:16 — elvira: Oi, Beto. Tenho pensado muito em você. Fala comigo? 😕 (essa é a minha tentativa de emoji fazendo um pedido)
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15/07/17, 23:04 — elvira: Bom, vou aproveitar que acabei mandando mensagem pra falar só mais isso: disse que pensei em você, mas não disse o que pensei, né? bom, só lembro de coisas boas de você, Beto. Logo que você sumiu, fiquei meio sem saber o que pensar e fiquei meio assustada, mas passou. De toda forma, não queria ter uma DR, não queria que você me explicasse nada, mas acharia sensacional se você pudesse continuar fazendo parte da minha vida. Eu acho você uma pessoa interessante de verdade e também acho que tudo bem se você não quiser mais me dar uns beijo, mas, bom, vim aqui pra admitir que é difícil demais essa situação de não entender nada e de as pessoas simplesmente se afastarem. E eu juro que não é uma DR, mas é que se você não voltar a falar comigo nunca vai saber que minha drag preferida ganhou o Ru Paul e que eu fiz um brioche bem bom.
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Este trecho faz parte do livro Oi, sumido que estou publicando aqui, no Medium, e no Wattpad enquanto escrevo. Oi, sumido conta a história da série de encontros românticos e transas memoráveis entre Elvira e Beto, que foram interrompidas pelo sumiço inesperado do rapaz no WhatsApp. O fim abrupto, no entanto, é o início de uma saga, para Elvira, de descoberta de palavras, sentimentos confusos e vulnerabilidades. Sem se contentar com o sofrimento silencioso do abandono digital, a jovem decide aceitar o papel de louca que lhe sobra na história.