POR SEANE MELO

Foi bom pra você?

Fonte: Girls (HBO). Acordei com o corpo pesado. Abri os olhos, comecei a distinguir a arara de roupas do meu quarto e imediatamente tomei consciência dos roncos no Mateus. Antes de virar para encará-lo, eu já adivinhava que ia estar dormindo pelado e de boca aberta, ocupando mais da metade da cama. Estava de costas para […]

Fonte: Girls (HBO).

Acordei com o corpo pesado. Abri os olhos, comecei a distinguir a arara de roupas do meu quarto e imediatamente tomei consciência dos roncos no Mateus. Antes de virar para encará-lo, eu já adivinhava que ia estar dormindo pelado e de boca aberta, ocupando mais da metade da cama. Estava de costas para mim e a maior parte do lençol já tinha escorregado para fora, deixando sua bunda peluda de fora. Não sei como podem achar isso feio, pensei quase sem conter um impulso de passar a mão. Adorava acordar vendo aquela bunda e adorava ainda mais dormir sabendo que tinha…

Encarei o teto insegura e tentei recuperar algum detalhe da noite passada, mas o compartimento do meu cérebro que deveria ter guardado essas lembranças parecia completamente vazio, de um jeito que eu só havia experimentado na ressaca do meu aniversário de 25 anos. Me esforcei para lembrar algo anterior à noite, mas, no esforço de lembrar, voltava muito o filme, como se não conseguisse apertar o botão de parar na hora certa.

“Você vai voltar pro Rio?”

Vi a cara de surpresa do Mateus, dando de ombros. “Ué, achei que você sabia que eu só tava passando um tempo aqui”.

Não, não, isso foi no fim de semana, abanei a cabeça e tentei focar nas lembranças que realmente procurava. Quarta-feira, 23 de novembro, mais conhecida como a noite passada. Mas o estômago já começava a revirar só de lembrar que ele ia embora, que nunca passou pela sua cabeça ficar. O mais foda era o rosto tranquilo que não parava de aparecer no projetor do meu cérebro, de um jeito torturante que quase me fazia querer sair correndo. Por que não tinha uma sombra, sabe, ou um tique ou qualquer sinal de incômodo com a ideia de me deixar?

Balancei a cabeça. Não quero pensar nisso agora, disse pra mim mesma em uma tentativa de controlar o que vinha à mente. Noite passada, noite passada, implorei mentalmente por alguma lembrança até que finalmente uma luz se acendeu. Na real, não foi exatamente uma luz, foi o som do alarme do meu celular, mas de repente a cena começou a voltar.

Eu conferia se não tinha nada preso no meu dente no espelho do banheiro quando o Mateus tocou a campainha. Caminhei um pouco ansiosa demais, tentando me lembrar de ser natural. Quando abri a porta, me deparei com ele escorado na parede, me olhando feito bobo com a cabeça pendendo pra um lado. Desarmei. Joguei meus braços em volta do seu pescoço e dei logo um beijo.

A minha euforia continuou, lembro disso. Eu tava animada, ansiosa até, pra transar com ele, pra ter uma ótima noite e não pensar mais em quem ia e quem ficava. Mas Mateus não parecia estar na mesma vibe. Depois de me dar mais uns beijos, ele sentou no sofá e perguntou se podia dar uma olhada no placar dos jogos que passavam na tevê. Claro, fica à vontade. Sentei ao seu lado e ficamos nos revezando entre conversar e ver algum lance mais perigoso dos jogos. Foi então que o alarme do celular tocou: 23h.

Avisei que era o despertador do meu remédio e fui à cozinha pegar um copo d’água. Normalmente, aquele era o horário do meu anticoncepcional, mas, há duas semanas, tinha se tornado também o horário do meu antidepressivo. Tirei um comprimido da cartela e hesitei por alguns segundos antes de tomar. Enquanto bebia a água, avaliava que ainda estava ansiosa demais. Talvez, olhei para outra caixa de remédio, também fosse uma boa ideia tomar o remédio pra dormir. Antes que pensasse duas vezes, engoli o comprimido e fui me juntar ao Mateus jogado no meu sofá. Enquanto lembrava disso, deitada na cama, senti meus batimentos cardíacos desacelerarem. Puta merda, Vanessa!

Não sei quanto tempo se passou. Mas lembro de sentir o Mateus me abraçando, me beijando e me convidando pra ir ao quarto. Dei uma leve despertada e o conduzi pelo pequeno corredor. Mateus, de repente, parecia muito animado e me olhava com tanto desejo, como se sua cabeça tivesse trabalhando a todo vapor no roteiro de putarias daquela noite, que me dava vontade de rir. Tentei tirar a roupa de uma forma sensual para provocá-lo, mas quando levantei uma das pernas pra tirar o short e a calcinha, quase caí no chão. Mateus segurou o riso e pediu pra me ajudar.

“Eu ainda não tinha pedido pra você fazer isso. Tá vendo no que dá?”, me zoou.

Dei uma bufada de brincadeira e mandei ele ficar quieto. “Vem cá que hoje eu não vou te dar nenhuma chance”, prometi ficando de joelhos e desabotoando a sua bermuda. Passeei com a boca pela virilha antes de finalmente dar a primeira lambida no seu pau. Mateus gemeu de leve, avisando que tinha sido um bom começo. Lembro da sensação da minha boca completamente preenchida pelo pau dele e, depois, só lembro dele se afastando de mim com uma careta. Te machuquei?, perguntei meio atordoada.

As lembranças não iam só até aí. A gente recomeçou. Mateus deitou na cama e eu pedi pra montar em cima dele. Vou ser cuidadosa, eu juro. Ultimamente, tenho feito questão de ficar por cima, sabe? Acho meio chato não conseguir aguentar tanto tempo nessa posição. Não sei que merda é essa que cansa tão rápido. E olha que eu sou acostumada a caminhar, sabe, e até a correr uns 5k, mas na hora da transa, não sei o que dá. Acabei concluindo que era falta de prática e que tava na hora de ganhar resistência. O engraçado é que, há uns 4 anos, eu nunca me preocuparia com isso, mas o tempo não tá passando só pra mim, né? Antigamente os caras metiam numa velocidade absurda, mas agora tá diminuindo, diminuindo, e eu sinto que se não conseguir manter a velocidade por conta própria, o bagulho vai ficar feio. Ou vou ter que procurar os caras em outras faixas etárias… Não sei porque tô viajando nisso agora.

Comecei lentinha e fui ganhando ritmo, tentando sincronizar com um leve rebolado. Apoiei minhas mãos no peito do Mateus e fiquei vendo sua expressão de prazer. Me posicionei para ficar completamente deitada sobre ele e continuei cavalgando. Até que não senti mais nada. Quando dei por mim, Mateus empurrava meu corpo em direção à cama. Olhei pra ele sem entender.

“Vou ficar por cima”, explicou. Nos encaixamos novamente e só lembro de ter gemido e avisado “tá gostoso”.

Puta merda, Vanessa! A cada esforço que fazia para lembrar de mais alguma coisa, um gemido que fosse, uma mordida, um beijo, mais tinha certeza de que era fato: eu tinha apagado no meio da transa. Esperei, suando frio, Mateus acordar por uma hora infinita. Em outra ocasião, teria tentado acordá-lo ou teria começado a me arrumar para não me atrasar pro trabalho, mas o medo do que ele poderia estar achando de mim me paralisou na cama. Finalmente ele se mexeu um pouco mais e lentamente foi abrindo os olhos. Dei bom dia em uma voz que me pareceu completamente falsa e dei um beijinho em seu ombro. Sorriu pra mim. Com a coragem restabelecida, decidi arriscar:

“O que você achou da noite passada?”, sondei.

“Ah, foi…”, se espreguiçou na cama, “foi tudo bem”. Depois de dois segundos acrescentou: “que horas são?”.


Chegou agora? Então espia esse link e dá uma conferida nos contos que vieram antes desse. Na real, dá pra ler tudo fora de ordem, de trás pra frente e até de cabeça pra baixo, mas você pode curtir saber um pouco mais sobre as coisas que a Vanessa tem que aturar.

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