POR SEANE MELO

A terceira música nem acabou e eu já tô lembrando da gente fazendo amor

Fonte: Sex and the City Ainda não parei de pensar no Mateus. Até tô vivendo a vida, sabe, saindo mais, dando trela prum cara no Instagram e aceitando os convites do Jefferson pra “assistir alguma coisa” no apê dele. Mas toda vez que fico sozinha, especialmente no trânsito, acabo pensando no Mateus. Achei que podia ser […]

Fonte: Sex and the City

Ainda não parei de pensar no Mateus. Até tô vivendo a vida, sabe, saindo mais, dando trela prum cara no Instagram e aceitando os convites do Jefferson pra “assistir alguma coisa” no apê dele. Mas toda vez que fico sozinha, especialmente no trânsito, acabo pensando no Mateus.

Achei que podia ser falta de trilha sonora, então salvei um CD ao vivo de Maiara & Maraisa no Spotify pra ficar ouvindo no carro. Era pra isso me distrair, na real, me fazer pensar em dançar arrocha ou promover qualquer fruição irônica que me rendesse uns tweets legais. Mas, ontem, quando tocou Encontro com o passado, me flagrei pensando se essa podia ser a minha música tema com o Mateus.

Será que algo em mim te fez lembrar?

Das noites que a gente se amou debaixo do chuveiro (x)

O meu cheiro gostoso no seu travesseiro

O jeito que eu fazia na hora de amar

Tirando a parte do amor debaixo do chuveiro que sempre achei meio supervalorizada e que a gente nunca fez mesmo, achei que seria legal ele sentir saudades do meu cheiro no travesseiro. Modéstia à parte, acho que sei comprar bem meus shampoos. Tô tentando um desses low poo agora, sabe? Uma parada sem parabenos e petrolatos seja lá o que sejam. Espuma menos, mas acho que ainda me permite deixar um cheirinho em travesseiros.

Das noites que a gente se amou debaixo do chuveiro (x)

O meu cheiro gostoso no seu travesseiro (x)

O jeito que eu fazia na hora de amar

Depois me toquei que esse lance de cheiro no travesseiro também não combinava muito com o Mateus, só que ainda assim seria legal, sabe, se eu soubesse que ele gosta do jeito que eu faço “na hora de amar”. Aliás, essa é uma das coisas que mais gosto em Maiara & Maraisa. Acho meio bobo, mas confesso que gosto delas viverem cantando que transam bem.

Antes de escutar Encontro com o passado, eu tava jurando que a minha música com ele tinha que ser Show Completo. Eu tenho ânsias de vômito na parte do “brincando de amar”. Mas o resto é sensacional. Os pontos altos pra mim são marca pra amanhã, diz que não tá aguentando, diz também que é meu fã. Aí pula pra e quando a gente se encontrar de novo vai ter show completo na cama no chão no teto, do jeitim que você quer. Na estrofe seguinte ainda tem um com direito a re-pe-te-co que me faz fechar os olhos de tanta emoção.

Não tô sendo irônica, eu juro. Tudo que queria é que o Mateus fosse meu fã ou que eu pudesse me gabar de fazer mexidinho e gostosinho. Só que, quando constato isso, não deixo de me censurar por ter um desejo tão bobo.

Uma vez tava conversando com a Cíntia, que é uma referência pra mim, sobre o que as mulheres entendem por ser sexualmente livres. E ela tava me contando do relato de uma mina que se achava foda, porque arrasava na cama, chupava muito, fazia os caras pirarem e tudo. Mas daí ela caiu em si que não fazia nada pelo seu próprio prazer, sacou? Por isso, escreveu o relato que a minha amiga leu pra falar que tem um outro jeito do patriarcado escravizar as mulheres e deixar a nossa vida sexual uma bosta.

Eu concordo. Às vezes, conversando com umas minas, reparo que, se o papo é sexo, sempre vai ter uma para dizer que faz qualquer cara gozar com oral ou outra pra se gabar de cavalgar por horas e horas (essa eu invejo demais!), e daí já sei que a conversa vai virar uma competição pra ver quem dá mais prazer pros boys, quem é melhor de cama. Olha só que merda!

Acho que Maiara & Maraisa ainda tão nessa vibe, sabe? Mas acho honesto admitir que não é fácil sair disso. Sei lá, tive pelo menos um relacionamento longo o suficiente pra saber que todo sexo é esquecível. Que não é um boquete impecável que faz uma pessoa te imaginar do lado dela por seis temporadas de Mad Men. É tipo um restaurante novo, na real. Cê vai lá, come uma vez e o prato é incrível, na segunda vez, continua muito bom, na terceira, você acha só ok, talvez sua barriga não esteja muito boa, na quarta, cê já tá jurando que só podem ter mudado o cozinheiro.

Talvez seja por isso que só me lembro das primeiras relações que tive com alguém. Nem se quisesse conseguiria descrever todas as minhas transas, só se anotasse logo em seguida e, ainda assim, se eu bem me conheço, ia ficar com preguiça logo no início e ia deixar a parada mais ou menos assim:

Transa 23

Ver transa 22

Transa 24

Idem.

Transa 25

Ibidem (finalmente achei uma aplicação pra essa merda)

Transa 26/2

A gente parou no meio porque o supermercado fechava às 14h.

Acho que já deu pra entender, né? O lance é que mesmo sabendo tudo isso, lá no fundo, ainda quero ser uma foda especial. Claro que tento afastar isso da cabeça na hora do rala e rola, se não fico tão performática que parece que tô fora do corpo, me dirigindo. Isso, empina assim a bunda que fica visualmente mais agradável. Agora geme um pouco e vira pra câmera três. Já pensou? Na hora até que controlo, mas, uns dias depois, quando me pego no trânsito escutando Maiara & Maraisa cantarem olha eu andando de mão dada no meio do povo, onde é que você tava esse tempo todo?, é difícil não pensar em como seria daora ser essa foda especial pro cara com quem me imagino de mãos dadas entrando numa Tok&Stok e comprando lençol mil fios.

“É sério que também tem sertanejo nessa playlist?”, Mateus reclama enquanto me aproveito pra subir em cima dele.

“Pô, é Maiara & Maraisa”, replico, agora olhando-o nos olhos e sorrindo.

“Mas essa nem é das boas, sei lá, a boa num é aquela 10%?”, ele se remexe embaixo de mim.

“Essa é ótima, prestenção”

Mas e aí?

Que foi aquilo ontem à noite, hein?

“Recaída, um deslize, né?”, acompanho a música com um sorriso de provocação.

“Ih…”, ele tenta falar, enquanto continuo Fala a verdade aí, assume que eu já virei amor uô uô e fico dando cheiros no seu pescoço. Ele ri, me abraça forte e completa com um beijo.

“Quando eu voltar pro Rio, cê vai querer me visitar?”, pergunta ainda me abraçando.

Sinto meu corpo se enrijecer instantaneamente. Que parte de voltar pro Rio eu perdi?


Chegou agora? Então espia esse link e dá uma conferida nos contos que vieram antes desse. Na real, dá pra ler tudo fora de ordem, de trás pra frente e até de cabeça pra baixo, mas você pode curtir saber um pouco mais sobre as coisas que a Vanessa tem que aturar.

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