
Em 2016, estabeleci como única meta de vida ganhar dinheiro. Para ser bem sincera, me parecia um plano até reconfortante, bastava trabalhar, trabalhar, me sentir cansada, dormir e voltar a trabalhar. E nada disso era contraditório, porque o projeto dinheiro incluía deixar de lado um monte dos outros projetos nos quais me metia a fazer por genuíno interesse mas que não tinham retorno financeiro.
No papel, a ideia parecia muito bem arranjada, na prática, eu chegava em casa cansada e não ia dormir sem antes escrever aquela história que pensei no caminho. Escrever contos (e publicar) era o consolo que me dava por estar tão distante das coisas que sonhava (o doutorado, por exemplo) e por vender meu tempo tão barato. Mas, ao longo do ano, foram aparecendo pessoas que diziam gostar do que fazia e mudaram completamente minha relação com a escrita. O que era um projeto só meu — uma coisa talvez até pouco audaciosa: desenvolver a personagem mulher da qual sentia falta nas minhas leituras de eróticos — se tornou também um compromisso com quem lia e uma aposta. E se eu ganhasse pra escrever contos, não me sentiria melhor?
Em 2016, algumas portas se abriram para mim. Editores entraram em contato, o Marco Rigobelli se tornou meu leitor oficial e revisor, mais tarde, o Savron me presenteou com sua parceria nas ilustrações, entrei para o time da Editorial Revista Grafia, me tornei colaboradora fixa da Mulheres que Escrevem e comecei a sonhar com muitos projetos. Vou publicar um livro, venho repetindo pra mim como uma promessa; em 2017, jurei que isso não seria mais lazer, seria minha prioridade. Mas ainda não consigo tornar isso uma prioridade, pois o que resta do tempo que o doutorado demanda, ocupo com freelas.
Desde janeiro, bolo planos para tentar reverter o quadro, pensei num patreon, tô trabalhando na produção de zines (que virão ainda, aguardem), mas tudo é muito lento, pois tem que ser amadurecido e feito no que sobra de tempo que não deu pra vender. O e-book é o primeiro desses projetos que se concretiza.
Com certeza, tem falhas e coisas que poderiam ter sido pensadas com mais calma, foi feito com aquela força que a gente tira quando quer ver feito. Tipo quando a gente quer fazer um bolo e na receita diz açúcar mascavo, mas o mercado não é tão perto e você não quer gastar mais dinheiro esse mês, não devia ter comprado aquele chocolate de 12 reais, então, pensa que talvez não fique ruim com o açúcar demerara que tá ali no armário e que é até um pouquinho marrom também.
Ao vivo em Goiânia: quatro contos de patroa foi uma ideia que surgiu no ônibus de volta do retiro de escrita (obrigada, Sofia Soter), quando Maiara & Maraísa eram as únicas músicas que tinha baixado no Spotify. Ao ouvir Show Completo ou Encontro com o passado, pensei em como elas cantavam versos que eram quase contos eróticos e fiquei brincando, na estrada, de pensar em histórias praquelas letras; depois de esboçar uma ou duas, o projeto gritava na minha cabeça.
Pensei que a execução levaria menos tempo, mas, depois de quase dois meses ouvindo Maiara & Maraísa e Marília Mendonça até enjoar, desisti da minha capacidade de escolha e fiz uma enquete no Twitter para terminar de selecionar as músicas de trabalho. Foram quatro músicas escolhidas: uma de Maiara & Maraísa (apesar deu ter vontade de escrever sobre todas as letras delas), uma de Marília Mendonça, uma de Simone & Simária e, claro, a participação especial de Anitta no feminejo, cujo conto pode ser lido aqui.
Escrevi o e-book com muita vontade de que fosse uma leitura prazerosa, que servisse como cartão de visita, que animasse as pessoas a comentar no ônibus e no metrô, a mostrar pros amigos na sala de aula e no trabalho. Queria que desse pra ler no banheiro, pra ler em voz alta com o crush e, claro, que também rendesse leituras com uma mão só.
Sei que nem todo mundo é fã de feminejo como sou, por isso, escrevi histórias que pudessem ser lidas por quem nunca escutou, mas que também surpreendessem quem sabe de cor. Inclusive, desafio vocês a encontrarem os versos inscritos aqui e ali.
Principalmente, queria muito que vocês vissem esse e-book como um grande apoio e uma forma de me dar a satisfação de ser uma escritora paga pela primeira vez na vida ❤ (Se quiserem, podem imaginar como um adiantamento pelo livro da Vanessa que um dia há de sair do computador!)
Ver o livro publicado e disponível para venda na Amazon é uma satisfação imensa, realmente difícil de explicar, mas, depois de muito pensar, decidi que não podia me calar sobre o assunto. Quando tentei publicar o material pela primeira vez, a plataforma KDP bloqueou o livro, alegando que violava as suas diretrizes de publicação. Diziam só isso e mais nada.
Foi um soco no estômago pra mim e pra todo mundo que tinha me ajudado até aqui, em especial, pro Savron. Acontece que, na primeira versão que submetemos, a capa exibia a ilustração de uma vagina, mas a gente se recusava a aceitar que tivesse sido isso.
Fiz alterações no texto escrito, tirei tudo que houvesse de “erótico” nas palavras-chave (Oi? Mas não é isso que escrevo?) e, claro, fizemos a capa atual. Deu certo!
Não vou dizer que estou triste, pois ter conseguido tornar esse material disponível me deixa bem feliz, mas queria compartilhar esse fato e, principalmente, mostrar a arte original que o Savron fez com tanto amor e talento pra esse e-book. Já estou pensando na versão impressa e aviso logo que vai ter buceta sim! E se reclamar vai ter camiseta e caneca!
