
Esse é um daqueles anos em que me sinto cansada na maior parte do tempo e me pego pensando em como queria descomplicar minhas relações. Eu só queria casar, sabe? Às vezes, acho que as pessoas não esperam isso de mim, sei lá, que me acham desapegada dessas coisas. Mas, por mim, já tinha casado cinco vezes. Casado sem anel, aliança, pedido ou joelhos no chão. Sem vestido, sem festa, sem “é só um almoço”, sem “vai ser um churrasco só pros mais íntimos”.
Por mim, a gente acordaria no outro dia, depois da foda cansada pós-balada, e ele perguntaria:
“Vai fazer o que hoje?”
“Sei lá, acho que vou procurar alguma coisa pra assistir”
“Fica aí. A gente toma café e depois banha de piscina”
“Beleza”.
E daí eu ficaria, mesmo sem ter lembrado de levar protetor solar. E, em algum momento, a gente voltaria a sentir fome e ele diria pra sairmos pra almoçar. E daí daria sono e a gente deitaria, mas decidiria transar, transaria e dormiria. E daí acordaria com fome, ele diria que ia ver o que tinha na geladeira e me ofereceria um misto.
“Não posso comer queijo”
“Então pode ser só o presunto com requeijão?”
“Requeijão também não posso”, riria da cara dele — só quando perguntasse se eu queria café puro ou com leite é que começaria a perder a graça.
A gente comeria e eu me ofereceria para lavar a louça. Ele procuraria um pano de prato limpo nas gavetas quase vazias do armário da cozinha e ficaria me esperando entregar as primeiras louças limpas. Quando eu já estivesse pra terminar, ele viria me abraçar por trás. Pressionando o pau duro na minha bunda e me fazendo molhar a camisa na pia.
“Ow, eu podia ter quebrado alguma coisa”, eu reclamaria.
E daria pra ele do mesmo jeito. Ele ficaria com preguiça de vestir uma roupa e ligaria a TV. Então a gente assistiria a alguma coisa muito ruim por quase duas horas, até ele decidir que a gente podia estar assistindo a algo decente. E daí já seriam 23h e ele ia estar com preguiça de levantar e vestir uma roupa pra se despedir de mim e não seria perigoso eu voltar sozinha? A cidade do jeito que tá…, ele ia argumentar enquanto contornava meu mamilo com o dedo indicador. E só quando eu parasse de olhar pra ele e começasse a rir olhando praquela arrumação é que ele perceberia. Então apertaria um bico pra me provocar e depois começaria a chupar meus peitos.
Duas horas da manhã, ele levantaria dizendo que tinha que mijar e voltaria com a ideia brilhante de fazer pipoca. A gente comeria pipoca, olharia pro relógio e concordaria que era melhor dormir.
E daí eu acordaria com mais um “fica aí”, que eventualmente viraria “só preciso dar um pulo no supermercado, cê se importa? Tô sem café e o papel higiênico tá pra acabar”. Claro que não. É bom que compro protetor de calcinha e um leite sem lactose. A gente caminharia lado a lado e ele seguraria minha mão para evitar que eu continuasse esbarrando nele. No supermercado, a conversa sobre a marca preferida de tapioca começaria no hortifruti e terminaria no caixa.
“CPF na nota?”
“Não”, responderia no automático.
“Ei, coloca o meu então!”, me adiantaria. E ganharia 30 centavos de restituição de impostos graças a ele.
Nós carregaríamos as compras pra casa e, ao chegar, esqueceríamos de guardar os frios. Ele começaria a rir de um vídeo do YouTube e insistiria preu ver. Genial, olha aqui! Eu não acharia graça e nós teríamos nosso primeiro desentendimento. Ele aproveitaria para sugerir um sexo de reconciliação.
“É o mais gostoso que tem”.
“Prefiro o de antes das pazes”, eu discordaria. “Com aquela raiva reprimida, sabe?”.
“Tá valendo!”, responderia jogando as almofadas no chão para me comer no sofá.
Eu vestiria meu sutiã e consultaria as horas no celular. Casa comigo?, ele pediria olhando minhas coxas. Beleza, ainda nem escureceu lá fora, eu responderia sem confessar que estava era com preguiça de me calçar. A partir de então eu viveria o eterno retorno da sarrada na pia, do sexo no chuveiro, teria um cara pegando nos meus peitos enquanto mexia o brigadeiro na panela e todas as deliciosas monotonias da vida doméstica. Eu assistiria a desfiles de cuecas velhas e manchadas da primeira fila. Veria pau murcho balançando, cofrinho peludo e ainda aproveitaria um momento de descuido para dar uma mordida na bunda dele e uma fungada no pau com cheiro de guardado em calça jeans no eterno verão maranhense. Então reclamaria e acrescentaria que os pentelhos estavam tão grandes que ficavam grudando na garganta. E ele devolveria dizendo que bem que eu podia depilar as pernas. E depois daria pra ele do mesmo jeito. Uma vez antes de sair pro trabalho, meia vez antes de dormir e outra meia vez quando eu acordasse de madrugada e ele ainda estivesse vendo algum documentário lixo sobre ETs. Voltaria a dormir antes de acabar.
Por mim, não teria nenhum problema em casar. Só não saberia descasar, não sou muito boa em acabar as coisas. Deixaria nas mãos dele, como sempre deixo. E seria dolorido, né? Então começaria a repensar esse lance de casamento. Diria que não era pra mim, sabe, me acostumo fácil, me apego demais. Repetiria isso e assistiria a 500 dias com ela pra lembrar como é quando só um gosta. Então sairia com mais gente que não pode ficar pra dormir, que tem que estar na rodoviária até 10h da manhã, que tá com uns projetos. Até encontrar outra pessoa que estaria com o dia livre, e o seguinte também e, talvez, mais um.
Por mim, eu teria casado cinco vezes. Porque o primeiro, o segundo e o terceiro só ficaram por três encontros. O quarto era aquariano. E o quinto era o Jefferson. Já tô falando dele no passado.
Ontem, o Jefferson disse que preferia dormir em casa.
Da última vez que estive em São Paulo, fui convidada para conversar com as meninas do Clube do Livro Erótico sobre escrever literatura erótica e o resultado desse papo tá no ar! Achei o convite muito incrível, pois, caso não conheçam o canal, essas duas moças aí manjam demais de livros eróticos e, desde o ano passado, é de lá que pego indicações de leitura.
Cliquem no link, vejam a minha fuça, elogiem meu cabelo e continuem sendo os leitores maravilhosos que vocês são! Por favor, né?