02/09/17, 23:34 — elvira: Boa noite, Beto. Tinha muita coisa que queria te falar hoje. Uma delas é que acho que descobri porque dá tanta merda quando vou cozinhar. Acho que no fundo é que estabeleço uns parâmetros muitos irreais de cozinhar sem sujar muito.
Outra é que criei coragem pra ir no lugar que tem hambúrguer de cordeiro, mas fui no almoço, então pedi só um espeto de cordeiro. Tava bom, mas acho que esperava mais. Acho que ainda preciso ir naquele que você mencionou.
A última coisa, a coisa na qual estou pensando nesse minuto, é que queria que todos os homens soubessem fazer um oral como você. Não gosto de ficar te elogiando nessas mensagens pra não parecer que quero que cê algum dia me responda, mas essa é uma habilidade sua da qual você já tem plena consciência. Espero que te elogiem bastante e fico torcendo pra que algum dia comecem uma corrente do bem entre os homens com a seguinte tarefa: chupar muito no primeiro encontro sim! (pelo menos com três garotas diferentes, pro mundo sentir a diferença).
Visualizada.
Depois que tomaram banho, Beto escolheu uma camiseta para Elvira e outra para vestir. Dormia sem cueca, mas não gostava de ficar sem camiseta, explicou quando percebeu o olhar intrigado de Elvira. Era uma visão engraçada e incomum, ela concluía observando Beto percorrer o quarto, recolhendo as roupas do chão. Volta e meia a camiseta subia e revelava ou a bunda branca e cabeluda ou o pau borrachudo. Tentou parar de olhar, mas não conseguia, seus olhos sempre eram atraídos pra lá. Nunca tinha visto um cara dormir daquele jeito, Beto parecia ser realmente um cara complexado — Será que se acha peludo? Ou gordo?
Distribuíram o espaço na cama e se deitaram. Beto fez menção de jogar o grande cobertor felpudo azul claro no chão, mas Elvira pediu para ficar com ele. Não era um dia particularmente frio no Rio, como quase nunca é, mas, para uma maranhense, ainda conseguia ser frio o suficiente, explicou.
“Eu sou o contrário, sou muito calorento”, Beto confessou.
“Eu sou friorenta, meu pé é famoso por estar sempre muito gelado”, Elvira disse, encostando o pé na perna do rapaz.
“É realmente frio”, ele concordou. “Já pensou em tentar transformar isso num conto erótico?”
Elvira riu. “Tipo aqueles caras que têm fetiche com pé e daí na história seria um pé gelado? Tipo um BDSM?”
“Exato”.
“Putz, que ideia boa”, ela comentou olhando pro escuro, enquanto Beto dava uma risadinha incrédula. “É sério, acho que dá pra fazer a continuação do texto de hoje com essa ideia”.
Elvira não contou, mas odiava quando homens tentavam dar sugestões pros seus contos. Nunca eram ideias que tinham a ver com o que gostava de escrever. Mas aquilo ali tinha sido uma surpresa, realmente poderia escrever aquela história.
Este trecho faz parte do livro Oi, sumido que estou publicando aqui, no Medium, e no Wattpad enquanto escrevo. Oi, sumido conta a história da série de encontros românticos e transas memoráveis entre Elvira e Beto, que foram interrompidas pelo sumiço inesperado do rapaz no WhatsApp. O fim abrupto, no entanto, é o início de uma saga, para Elvira, de descoberta de palavras, sentimentos confusos e vulnerabilidades. Sem se contentar com o sofrimento silencioso do abandono digital, a jovem decide aceitar o papel de louca que lhe sobra na história.