
Fui passar o Réveillon na casa da Luísa e, entre uma e outra checada impaciente que eu dava no celular para ver se o Marcelo ou o Mateus ou o Jefferson tinham me mandado uma mensagem qualquer de Feliz Ano Novo, acabamos decidindo fazer um saldo dos boys (e das minas, no caso da Luísa) do último ano. Luísa começou, mas, enquanto relembrava a fotógrafa que ficava se lamentando de solidão nas redes sociais e que caiu fora assim que Luísa demonstrou um pouquinho mais de interesse, me peguei surpresa achando que não tinha mais o que falar.
Todo final de ano fico meio sensível, sabe? Penso um pouco em trabalho, em mudar de carreira ou nos sonhos que quero realizar (e nem são muitos), mas fico meditando mesmo é sobre o amor que dei e recebi. Sei que é tosco, mais tosco que a palavra tosco até, mas foi algo que tive de aceitar e admitir pra mim mesma e pro psiquiatra — no fim das contas, ele só abanou as mãos e pediu preu continuar falando do assunto anterior. Enfim, todo ano repito o ritual simbólico de refletir sobre as relações que tive, nem que seja pra me lamentar e terminar decidindo olhar tudo pelo lado positivo. Pelo menos me apaixonei, sabe?
Estranhamente, não queria pensar nisso naquela noite. Não para evitar a verdade nua crua, na real, era exatamente porque a verdade tava muito evidente em todas as relações desse ano.
“Vai, agora é a sua vez!”, Luísa me incentivou a começar. “O que foi aquele Jefferson, Vanessa?”
Dei um suspiro desanimada. Bom, o lado positivo é que ele virou meu PA. Luísa tomou um gole de caipirinha e concordou. Nós sabíamos o que tinha rolado com ele e nunca foi preciso colocar isso em palavras. O Jefferson saía com outra mina. Ou saiu por um tempo, pelo menos. Ele não era um canalha, eu sabia disso, só que também não tinha peito pra me falar que tava pensando em sair com outra. Por isso ele se afastou de repente e depois voltou. Até hoje tenho curiosidade de saber o que rolou com a mina-que-dava-mole-pra-ele-no-Twitter, mas não vou forçar a barra de fazer essa pergunta. Aliás, é isso que me broxa no Jefferson. Tanto tempo conversando, tanta transa, pro cara não ter coragem de abrir o jogo? Pra falar a verdade, nem é só isso que me frustra nele, é uma coisa que também tem a ver com o Mateus…
“Desisti do Mateus, dessa vez não tem volta”, anunciei para uma Luísa incrédula. “É sério, cansei de gente que não me valoriza, saca?”
O foda do Jefferson e do Mateus era isso. Era perceptível no olhar do Jefferson. Nas poucas vezes em que a gente abriu nosso coração sobre o que esperávamos de relacionamentos, o que sobrava era um abismo de constrangimento. Apesar de não ser apaixonada por ele, me batia uma bad quando percebia que tava trepando há quase seis meses com alguém que não via nenhuma das minhas qualidades como desejáveis. E não é que ele me ache péssima, é que o que tenho de bom, nem entra nos critérios de seleção dele. Exceto talvez a cintura e a bunda, que sempre gostou.
Com o Mateus era mais confuso. Via os olhos dele brilharem quando a gente tava junto, mas… Sei lá, nem tem “mas”. Sabia que ele me curtia, era perceptível quando a gente tava no mesmo lugar, só que cansei de ficar esperando por esse visível que não se sustentava a distância. Demorei pra falar em voz alta, mas um dia acordei com a certeza. Ele não tá interessado. E me surpreendi ao sentir uma certa indiferença. Não que não doesse. Pô, é foda você estar a fim de alguém e não entender o que falta pro lance ser recíproco. Na primeira vez que o Mateus se distanciou, fiquei na maior paranoia, mas, dessa vez, parecia que eu tinha uma causa maior com que me preocupar. Parei de me perguntar por que ele em específico não podia me corresponder porque era o mesmo que dar murro em ponta de faca, sabe? No duro, não quero mais bater, não quero ter que resolver dilemas, quero só encontrar alguém que valorize o que sou. Uma parada ready-to-go, prêt-a-aimer, um fast lovezinho.
Então chegou o Marcelo, sem prometer nada. Eu já com os dois pés atrás. E, bom, ele é difícil de explicar sem voltar pros anteriores. Sempre guardo uma imagem das minhas transas na cabeça, sabe? Do Jefferson, guardo a bunda contraída enquanto ele se mete em mim e uma imagem no estilo boomerang do Instagram daquele peitoral espetacular se aproximando. Do Mateus, guardo uma cena inteira em que sento em cima dele, com os dois pés apoiados na cama, tipo acocorada com o pau dele em mim, e ele aperta meus peitos enquanto se contrai e estremece segurando o gozo. Vejo as mãos dele cobrindo meus seios por completo e apertando, apertando, porque não consegue mais aguentar. Ele não me diz pra não parar, só continua apertando meus peitos como uma forma de me avisar. Doeu um pouco, na real, mas guardo essa lembrança porque acho bonito quando as pessoas perdem o controle. Como ele era muito grande, gostava quando parecia frágil, abandonado dentro de mim. Do Marcelo, guardo a imagem de uma lágrima. Uma lágrima que não deixei rolar.
Desligou a luz e veio se deitar ao meu lado, e eu, tão melosa que nem me reconhecia, me deitei sobre o seu corpo e fiquei olhando suas sobrancelhas grossas que faziam um dobrinha simpática, pensando em como todo mundo parecia um pouco cachorro. Me agradeceu por ter ido pra lá e concordamos, entre beijos, que tinha sido tudo ótimo. Não tiramos nossa foto juntos, reclamei e ele garantiu que a gente ia se ver de novo e poderia tirar a foto. Respondi com um último beijo e a quase lágrima. A lágrima que segurei, mesmo sabendo que tinha todo o direito de soltá-la ali, mesmo sabendo que ele mentia.
Quando encontrei o Marcelo, soube que não duraria. Mas o aceitei como o que ele podia ser. O Marcelo foi um lembrete de que existiam, sei lá, 7 bilhões de pessoas no mundo. Que, sem procurar, tinha me deparado com um cara que transava como o Jefferson e tinha o humor do Mateus. E que, em algum momento, ia pintar alguém que me valorizasse, que eu admirasse e que tivesse um pau gostoso, sabe?
“Em 2017, não vou aceitar menos que ‘meu pau te ama’. Acho que não é pedir demais, né?”, perguntei pra Luísa, que me respondeu com uma gargalhada e um brinde de champagne.
***
O Jefferson mandou ‘Feliz Ano Novo’ pelo WhatsApp. O Marcelo respondeu à minha mensagem com um áudio bêbado dizendo que tinha sido muito bom me comer. O Mateus não enviou nada, mas filmou a festa inteira pelo Instagram. Quando terminei de assistir, dei unfollow.
Assim como a Vanessa está tentando colocar alguns pontos finais, a autora sente em informar que esse é o fim desse ciclo de histórias. Vanessa vai voltar? Será que demora pra ter algo novo? A autora vai conseguir tirar férias? Vou conseguir me aposentar algum dia? Deixo as respostas para essas perguntas no ar.
Não tá entendendo nada? Bom, a história completa da Vanessa faz parte do projeto maior de contos eróticos Eu digo te amo pra todos que me fodem bem. Tudo isso está organizado e acessível nesse link.