POR SEANE MELO

4 Livros sobre ghosting ou abandono (para revoltar ou deprimir)

Investigações sobre as questões e emoções de mulheres abandonas

Em 2017 comecei a escrever a história de Elvira e Beto, dois jovens que têm quatro encontros perfeitos até que o rapaz decide ignorar todas as tentativas de comunicação da moça, ou seja, fazer um belo ghosting. De lá pra cá, tenho recuperado, reescrito e mexido nesse projeto. Na pós em Escrita Criativa que iniciei em 2023, esse é meu projeto de trabalho atual. Dizem que dá azar compartilhar muito sobre o que você está escrevendo, mas estou contando isso para contextualizar meu interesse pelas leituras dessa pequena lista.

1. Copo Vazio (Todavia) – ghosting, aplicativos de namoro, recaída

Quando me deparei com o livro da Natalia Timerman, lançado em 2021, acho que me senti um pouco triste. Achei que o livro seria exatamente tudo o que eu queria escrever sobre ghosting. A história de Copo Vazio retrata a aproximação de Mirela e Pedro por aplicativos de paquera e o desaparecimento do rapaz em um cenário que é todo familiar à minha geração. O desespero e a fixação de Mirela, ao mesmo tempo em que podem ser repulsivos vistos de fora, são exatamente a tecla que uma narrativa sobre esse fenômeno não poderia deixar de bater.

Como leitora – que já leu o livro há algum tempo – lembro do livro como uma narrativa um tanto sombria. O que acompanhamos é mais o adoecimento da personagem diante da partida inesperada que seu apaixonamento. Mas isso não é um defeito. Timerman constrói muito bem a atmosfera da história e sustenta um suspense até o fim.

2. Oi, Sumido (Intrínseca, Trad. Ana Rodrigues) – aplicativos de namoro, ghosting, memória

Outro livro que trata exatamente de ghosting é o Oi, Sumido da britânica Dolly Alderton. E já que acabei de citar a referência nacional, não consigo escapar das comparações. Pelo título e capa, você já sabe que os dois livros miram em atmosferas diferentes. Enquanto o Copo Vazio é cheio de suspense, este se demora bastante no apaixonamento de Nina Dean por Max. Confesso que achei um pouco difícil embarcar no romance por já saber o que viria pela frente.

Durante boa parte da leitura, após o desaparecimento de Max, me peguei entediada com os conflitos de Nina na família e na vizinhança. Mas, com a aproximação do fim do texto, que prometia um final feliz, compreendi que esses movimentos da Nina para além do relacionamento com Max colocavam em pauta outras formas de abandono e questões internas.

3. Dias de abandono (Biblioteca Azul. Trad. Francesca Cricelli) – casamento, abandono, depressão

Este foi o primeiro livro que li quando iniciei meu projeto de escrita. Escolhi principalmente pelo título. Pensei que, pela escrita da Ferrante, eu poderia entender um pouco mais as questões de uma mulher abandonada.

O livro é uma paulada. Acho que, mais que aprender com este livro, eu tive que sobreviver a ele. Enquanto lia, me sentia transportada ao ambiente sombrio da personagem. Tudo nela era desamparo. Mal consigo lembrar a história hoje (devo ter lido em 2018), mas lembro do desespero de querer que a personagem apenas reagisse antes que tudo fosse ladeira abaixo. Desse livro, ficou a conclusão, que partilho com minha amiga Anna Carolina, de que você sofre, sofre, sofre, até que para de sofrer.

4. Laços (Todavia, Trad. Maurício Santana Dias) – família, casamento, traição

Tomei a liberdade de indicar um livro que ainda não terminei, mas há um diálogo claro com a temática. Este livro começa com um abandono e, na parte seguinte, avança no tempo, quando a família se reestabeleceu.

É uma história que gira em torno das fissuras que ficaram do trauma da traição, mas ainda é difícil falar muito mais de onde parei na leitura. Diferente dos outros, este é o único que nos traz a possibilidade de um arrependimento masculino, mas vamos acompanhar.

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